O futuro condominial: tendências para o mercado na visão de cinco profissionais do segmento
Pensando no que há de vir para os próximos anos, a Revista Domus pediu a cinco especialistas de áreas diversas do segmento condominial para apontarem três tendências possíveis para um futuro próximo. As respostas têm algo em comum: a necessidade de profissionalização e modernização nos condomínios e isso resume bem o dia a dia de quem atua ou circula pelo mercado condominial: o futuro já está acontecendo. Confira na matéria!
Cada vez mais, uma gestão profissional
Segundo o advogado e especialista em Negócios Imobiliários, Francisco Machado Egito, as gestões feitas por moradores sem formação específica estão dando lugar às gestões profissionais, realizadas por síndicos que enxergam a sindicância como o principal meio de ganhar a vida. “Estão crescendo as organizações empresariais de síndicos e de empresas de gestão, além do surgimento de cursos de formação para atender a esses profissionais multidisciplinares”, afirma.
O auditor condominial e instrutor de treinamentos para síndicos e administradoras, Odimar Manoel reforça a questão da profissionalização. “Esse é um marco na mudança no perfil dos síndicos, já que até então, figuravam predominantemente a gestão por síndicos moradores, sendo alguns voluntários. Aos poucos, o mercado consolida o modelo de síndico profissional”, diz.
Na visão do especialista em Manutenção Predial, Luiz Augusto Mendes, as palavras de ordem são: planejamento, padronização e relacionamento. “O futuro é uma gestão com planejamento, baseada em análise de dados e num modelo de negócios transparente. Além disso, na era do compartilhamento, o sucesso vem do conhecimento obtido pelo relacionamento”, resume.
Odirley Rocha, especialista em segurança e futuro condominial, parece estar em sintonia com Luiz Augusto Mendes, pois afirma que as tendências para o segmento estão no compartilhamento não só de informações, mas também de tecnologias como as dos aplicativos de compartilhamento de carros e dos espaços para os pets dentro dos condomínios. “Não tenho dúvida que as startups de aplicativos de compartilhamento e as de serviços para pets vão crescer esse ano no mercado condominial”, garante.
Para o advogado especialista em direito imobiliário e administração condominial, Rodrigo Karpat, as mudanças no mercado condominial se intensificaram nos últimos três anos por conta da pandemia. “Isso ocorreu devido adaptações que os condomínios tiveram que implementar por conta do distanciamento, sendo o principal vetor para isso, a tecnologia. Para dar um exemplo, as assembleias virtuais se transformaram numa realidade e a tendência para os próximos anos é cada vez mais os condomínios buscarem a automatização de processos”, explica.
3 tendências na visão de Francisco Egito
Francisco Machado Egito é advogado graduado em Direito Imobiliário, Direito Notarial e Registral, Contabilidade e Administração e especialista em Negócios Imobiliários.
1. Profissionalização do mercado
“O mercado vai gradativamente se especializar cada vez mais e extinguir o síndico que não for profissional. Isso significa que as gestões amadoras, sem experiência na área condominial ou que não possuírem nenhum curso específico, serão substituídas por aqueles gestores que fazem dessa atividade seu principal meio de vida. Podemos ver uma organização empresarial nesse sentido, com empresas cada vez mais focadas em gestão direta e que já começam a contar com vários colaboradores focados nessa ocupação, além de oferecer cursos de formação específicos para síndicos e gestores de condomínio, contribuindo e
auxiliando aqueles que não tem experiência ou que estão ingressando agora no mercado. A aprendizagem formal, com uma iniciativa de estruturação de conhecimento e ensino, de disciplinas específicas para atender o síndico, que é um profissional multidisciplinar em diversas áreas, se tornará cada vez mais comum. Direito, legislação, gestão, liderança, motivação, comunicação, manutenção predial e todos os demais temas que permeiam a atividade do síndico passarão a ser ensinados na grade do curso profissional”.
2. Tecnologia cada vez mais presente
“A adoção cada vez mais intensa da tecnologia nos condomínios, principalmente, nos complexos maiores, já se faz presente por meio de aplicativos para uso das áreas comuns e de lazer, além, é claro, dos aplicativos de comunicação pessoal. Nesse sentido, vejo que os aplicativos voltados para o contato com a gestão,que possibilitem você fazer uma reclamação ou ter uma informação direto com o síndico de forma mais profissional se tornará mais frequente e comum. Entre outras tecnologias, tem sido uma crescente nos condomínios também a instalação e a modernização dos sistemas eletrônicos prediais, com a adoção da automação predial, instalação de câmeras e de um circuito fechado de televisão (CFTV)”.
3. Condomínios com autoatendimento
“Condomínios mais voltados para as necessidades de compra dos moradores e que ofereçam sistemas com tecnologias de serviços autônomos e operados pelo próprio morador. Como exemplo, aquele mini mercado onde o próprio comprador seleciona seus produtos e realiza o pagamento por meio do aplicativo ou de um caixa eletrônico. Esse sistema já existe em diversos condomínios e funciona como uma loja de conveniência, instalada em um cantinho um pouco mais movimentado e acessível da área comum”.
3 tendências na visão de Luiz Augusto Mendes
Luiz Augusto Mendes trabalha há 15 anos com vendas, marketing e pessoas e é especialista em Manutenção Predial, Co-fundador e Diretor de Relacionamento na Éleme Manutenção Predial.
1. Planejamento e gestão com base em análise de dados
“O dinamismo na gestão de condomínios leva a muitas tomadas de decisões por parte dos gestores, envolvendo questões de múltiplas disciplinas. A tendência deste ano é utilizar dados e informações geradas por meio de tecnologias. Seja através de sensoriamento e IOT para medição de nível de caixa d’água ou até por meio de plataformas que auxiliam na gestão da operação diária do condomínio, organizando rotinas e aplicando correções por meio de indicadores. O futuro chegou. Em 2023 é possível economizar muito dinheiro e, mesmo assim, aumentar os benefícios de morar em condomínios tecnológicos”.
2. Transparência e profissionalização da gestão
“Em todas as cidades, existem modelos de gestão específicos da região e modelos de construções de edifícios com padrões diferentes. Tamanha diferença entre estes tipos de edificações e gestões tornam ainda mais complexa a padronização de boas práticas e necessidades que todo condomínio possui. A tendência de 2023 é que os Síndicos, Administradoras e a Éleme encontrem modelos de negócios profissionalizados e eficientes para cada tipo de edificação e gestão com foco em resultados!”.
3. A era do compartilhamento
“A informação por meio da internet mudou o mundo, mas também gerou o que temos de mais especial no mercado condominial: as conexões. O mercado está unido: você pode se conectar, trocar experiências e aprender com profissionais de todas as áreas e de todo país. Nosso mercado é de relacionamento e, como todo relacionamento, necessita de confiança, de convivência, de conquistas e aprendizados. Aproveite o network, acompanhe os influenciadores do mercado, mas principalmente: busque conexões e compartilhe!”.
3 tendências na visão
de Odimar Manoel
Odimar Manoel é auditor condominial e instrutor de treinamentos para síndicos e administradoras. Já atuou como Síndico Gestor Profissional em empreendimentos Home Clubs de grande porte em Balneário Camboriú e Joinville.
1. Assembleias digitais
“Testadas no período da pandemia e regulamentadas pela lei 14.309 em março de 2022, as assembleias digitais, que funcionam virtualmente ou de forma online, devem se consolidar como um mecanismo para a assembleia, em substituição às reuniões tradicionais. Podemos notar esta tendência inicialmente nos condomínios litorâneos, onde grande parte dos proprietários são investidores ou não residem costumeiramente, sendo a assembleia digital um importante meio para todos participarem democraticamente das decisões”.
2. Serviço de portaria remota
“O controle eletrônico de acesso tem se mostrado eficiente nos condomínios onde são implantados. O serviço contribui para o equilíbrio financeiro e até mesmo na redução dos custos operacionais, amenizando os impactos da elevação de despesas em virtude da inflação e das consequências da pandemia. A cada dia, mais empresas ofertam este tipo de serviço, que tem encontrado ampla aceitação pelos moradores, tanto pela redução financeira, quanto pela questão trabalhista, além da comodidade tecnológica da qual estamos todos inseridos”.
3. Síndico Empresário
“É uma evolução do síndico profissional e se revela como uma vibrante solução nos condomínios clubes e edifícios com complexidades operacionais, como empreendimentos de alto padrão e centros corporativos, onde a gestão exige um forte suporte de retaguarda. O Sindico Empresário se diferencia do ‘sindico profissional tradicional’ no fator equipe. Enquanto que o síndico profissional trabalha de forma solitária, ainda que opere como pessoa jurídica, o síndico empresário trabalha com uma pegada empreendedora, fortalece sua estrutura organizacional contratando funcionários para compor a equipe, oferecendo suporte e menor tempo de resposta às intercorrências do dia a dia dos clientes”.
3 tendências na visão
de Odirley Rocha
Odirley Rocha é especialista em segurança e futuro condominial, professor em três cursos de pós-graduação em gestão condominial, tem MBA em Gestão de Segurança Empresarial, está no mercado de segurança há 23 anos e é diretor comercial do Porter Group.
1. Compartilhamento de carros dentro dos condomínios
“Começou em São Paulo no início do ano passado, agora já chegou ao Rio, foi para BH e está vindo para o sul do país. Mas o que seriam os carros compartilhados? A empresa fornecedora disponibiliza um carro e esse carro é gratuito para o uso do condomínio, então o síndico não precisa desembolsar nada inicialmente. Os moradores instalam, reservam o carro pelo aplicativo e pagam para alugar por hora. Imagina só, você sair do elevador e, ao invés de pegar um Uber, pegar o carro
do condomínio para ir ao supermercado ou ao shopping, por exemplo? Você usa para ir e voltar e, muitas vezes, é mais barato que o Uber. Em função dessa tendência, vamos ter um problema bom: lá em 2030, vamos olhar para trás e ter que pensar o que fazer com as nossas garagens. Por que? Porque a gente não vai ter mais carro. A vibe da juventude que está chegando é o compartilhamento. Na minha época, no dia seguinte após completar dezoito anos, já fui fazer autoescola. Já o meu filho de dezessete anos não está nem um pouquinho preocupado em fazer carteira de motorista. Então, essa turma de novos moradores já está na era do compartilhamento”.
2. Digitalização de documentos
“Até pouco tempo atrás as digitalizações eram tímidas e apenas algumas administradoras ofereciam. Mas, hoje, tudo está digitalizado. Por que? Pense bem: as pessoas estavam lutando contra a digitalização. Diziam ‘ah, documento X não pode digitalizar. Tem que ter o papel físico’. Mas vamos pensar nos últimos dois anos: quantas fotos você tem em um álbum físico? A verdade é que você não tem mais fotos impressas. Isso é raro. As suas fotos estão onde? Estão na nuvem, estão numa pasta digital, em um arquivo. As pessoas não imaginam que já estão na nuvem, que já estão na era da digitalização, mas isso já está acontecendo e a digitalização dos documentos é uma realidade que as pessoas vão perceber e vivenciar cada vez mais pela praticidade. Principalmente no mundo contábil e administrativo”.
3. Facilidades para pets em condomínios
“Devido ao crescimento do número de pets nos condomínios, não tenho dúvida nenhuma que as startups de produtos e serviços pet vão crescer no mercado condominial. As tele-entregas vinte e quatro horas de produtos pet, o veterinário, o serviço de banho e tosa, a venda de ração, de petiscos, brinquedos e tudo mais que trouxer o bem-estar do seu animalzinho dentro do condomínio vai acontecer. Mais um exemplo: furgões de banho e tosa vão estacionar na frente ou dentro do condomínio e você vai reservar o horário para dar o banho e a tosa no seu pet, evitando o estresse dele de ir até lá na petshop. Você vai descer com ele, vai colocar ele ali, já vai fazer o banho e a tosa e já levar ele de volta novamente”.
3 tendências na visão
de Rodrigo Karpat
Rodrigo Karpat é advogado militante na área cível há mais de 15 anos, sócio fundador do escritório Karpat Sociedade de Advogados, autor de três livros sobre direito imobiliário e condominial e presidente da Comissão de Advocacia Condominial da OAB-SP.
1. Automatização nos processos
de carros dentro dos condomínios
“Cada vez mais, os condomínios funcionarão como empresas. Não só a participação em assembleias ocorrerá de forma virtual, como hoje, o que é insípido, será o padrão: a utilização de mercadinho no próprio condomínio, agendamento de reunião de forma online, reserva de salão de festa, churrasqueira, espaço gourmet, disponibilização de balancete, pastas, dados etc. O que quero dizer: a tendência é a profissionalização da forma de gerir e morar em condomínios. Por isso, acrescento que o mercado de síndicos profissionais tende a crescer e muito nos próximos anos”.
2. 2. Carros Elétricos de documentos
“Nesse sentido, os condomínios precisarão se adaptar. Hoje, existem leis que obrigam condomínios novos a disponibilizar espaço e sistema para carregamento dos veículos elétricos. Porém, os antigos edifícios não são obrigados. Futuramente, quando 50% dos moradores tiverem carros elétricos, será incontornável a gestão ter que debater essa questão. Além disso, é preciso se ter em mente que, empreendimentos que buscam modernizar a sua estrutura, acabam valorizando.
3. Judiciário atuar na regularização da hospedagem temporária
“Por último, entendo que uma tendência é o judiciário, bem como os condomínios, regrarem de forma definitiva a questão dos aplicativos de hospedagem. Assim como comentei sobre a tecnologia que vem ocupando nossas vidas em diversas esferas, essa é uma forma de hospedagem prática para o usuário, tanto aquele que tem um imóvel como aquele que busca um para se hospedar. Tanto que isso virou um negócio bilionário em todo o mundo. Mas junto com isso, chegaram muitos problemas. Nesse sentido, aqui, sem entrar no mérito de ser certo ou errado, é preciso que nossa legislação tenha um caminho definido sobre essa questão, a fim de legalizar as relações entre proprietários e coproprietários no condomínio, buscando a harmonia e um entendimento que respeite de forma segura aquilo que é ou não legal quando falamos em hospedagem via aplicativos”.
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