Conquistas Trivializadas
Quantas coisas adquiridas, pequenas ou grandiosas, que depois de um tempo passam despercebidas por esta rotina que engole sentimentos que deveriam ser latentes o tempo inteiro?
Quer um exemplo? LER. Você já parou pra pensar que se você consegue ler este amontoado de letras, formando uma frase você é sim uma pessoa privilegiada? Sabe quantos analfabetos temos no Brasil? Segundo a última pesquisa do IBGE, 11,3 milhões de pessoas com mais de 15 anos analfabetas. É muita gente!
Já pensou pegar uma revista, como esta que você está nas mãos e não conseguir decifrar o que está escrito nas páginas? Na infância, já era agoniante pra mim. Lembro-me de folhear as páginas de um livro, com 4 ou 5 anos de idade e fazer de conta que eu sabia o que estava escrito ali. Parecia tão legal conseguir decifrar cada palavra. Quando minha mãe lia pra mim eu ficava atenta às páginas e aos lábios dela, enquanto lia. Que momento incrível!
Agora vamos lá: quantas pessoas já passaram pela dificuldade da visão, quando perceberam que precisavam de óculos? Eu me lembro de mostrar algumas coisas pra minha mãe na minha adolescência e ela dizia: “Ai, não consigo enxergar!”. Eu ficava enlouquecida pensando“como pode ela não conseguir enxergar? Como assim a gente perde a visão quando vai envelhecendo?” Mas, a grande maioria, senão todos, perdem. E, sem óculos, sem um auxílio, não conseguem mais enxergar tudo 100%. Quando cheguei nos quatro graus de miopia, foi triste. Queria ver as horas quando acordava de madrugada, no celular, e não enxergava sem lente. Ficava agoniada. E que saudade que dá de ver tudo sempre, de qualquer jeito, sob qualquer ângulo.
Outro exemplo: DIRIGIR. Eu sempre sonhei em conseguir aprender a dirigir. Por quê? Porque minha mãe nunca dirigiu. Às vezes, tínhamos o carro na garagem, mas meu pai não estava disponível. E minha mãe não conseguia nos levar a um compromisso porque ela não sabia dirigir.
Desde muito cedo, sempre dizia que queria ter minha carteira de motorista e ter a liberdade de conduzir um automóvel. E assim foi. Com 18 anos completos, fui logo fazer autoescola pra ter a habilitação.
No início, parece que vamos espanar. São muitos detalhes pra lembrar tudo junto, misturado e tomar decisões imediatas. Mas damos conta! É tão estimulante conseguir fazer a primeira baliza. É tão maravilhoso aprender a subir morro. É incrível passar no teste final do Detran. Mas tudo isso passa. Quantos outros exemplos podemos trazer para esta reflexão? Um relacionamento? Um novo emprego? Um imóvel? Filhos?
A questão é que conquistamos algo e, depois, acostumamos, trivializamos e não damos o devido valor SEMPRE. Entra para lista das coisas “OK” da vida.
Pensa que demais seria se cada vez que fôssemos ler algo nos lembrássemos da felicidade que é saber ler. Conseguir ler. Ter a oportunidade de ler. Quantos sabem e não leem. Por preguiça, porque não tem hábito. E deixam pra lá.
Não seria maravilhoso, se a cada vez que a gente entrasse em um carro no banco do motorista, a gente lembrasse do desejo de aprender e que, de fato, aprendemos? E, ao respirar, parar por um instante do dia todos os dias e agradecer?
Todos os dias, ao vermos nossos filhos, abraçá-los por um instante e sentir-nos imensamente gratos e realizados por termos sido abençoados por ter estes anjos em nossas vidas?
Cada entrada em nosso lar, inspirar, sorrir e lembrar da sorte de ter para onde voltar todos os dias, enquanto muitos permanecem perambulando pelas ruas.
A gratidão pode ser extraída destas pequenas reflexões. Lembrar, com frequência, de tantas coisas conquistadas, mas muitas delas trivializadas.
Que sejamos atentos a tantas coisas simples, mas lindas e maravilhosas que nos cercam, mesmo nos momentos mais difíceis.
A vida é feita de detalhes!
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