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Não judicialização e autorresponsabilidade

No contexto atual, o que cada um pode fazer pela sustentabilidade dos relacionamentos e dos negócios e pela proteção do meio ambiente? A primeira resposta que vem é: desenvolvendo a autorresponsabilidade. De que forma? resolvendo os conflitos extrajudicialmente pela Conciliação, Mediação ou pela Arbitragem.

Nas horas decisivas, estamos sós. No nascimento e na hora da morte, estamos sós. Mesmo que tenhamos companhia externa e próxima, a hora é só nossa, a experiência é nossa. E, ao longo da vida, seja na alegria ou no sofrimento, o gozo ou a dor são nossos. Isso faz lembrar de minha mãe relatando com serenidade e humildade esta constatação, quando meu pai morreu de infarto ao lado dela, na cama, e ela não viu: “a gente começa sozinho e acaba sozinho!” Essa foi a fala que mais me marcou ao pensar sobre a vida. As experiências são sempre nossas – sensações, sentimentos, emoções, dores, danos, perdas e ganhos.

Mas também, durante a vida, convivemos com os outros e somos impactados pelas atitudes e decisões do outro, assim como impactamos o mundo com nossas atitudes. Vivemos e experimentamos individualmente os efeitos de nossas escolhas e decisões o tempo todo. Entre o começo e o fim da nossa vida, temos um grande espaço de tempo e lugar que se preenche com relacionamentos. E a qualidade desses relacionamentos depende de muitos fatores, mas um dos mais importantes é a autorresponsabilidade. Ter consciência sistêmica, compreender as interdependências, saber avaliar os impactos de palavras e ações nas nossas interações sociais são alguns dos requisitos para a autorresponsabilidade.
Paulo Vieira, no livro “O Poder da Autorresponsabilidade”, nos apresenta seis práticas linguísticas e comportamentais que contribuem para o desenvolvimento da autorresponsabilidade:

1. Se é para criticar, cale-se (ou pergunte para compreender).
2. Se é para reclamar, dê sugestão.
3. Se é para buscar culpados, busque solução.
4. Se é para se fazer de vítima, faça-se de vencedor (mostre o aprendizado).
5. Se é para justificar seus erros, aprenda com eles (não existem erros, apenas resultados).
6. Se é para julgar as pessoas, julgue apenas suas atitudes e comportamentos (de que lugar o outro agiu?).

Relacionamentos tem conflitos e isso é natural. Os conflitos tem como pano de fundo a nossa identidade e o nosso reconhecimento. E a noção que temos sobre o que seja um direito e a garantia desse direito está culturalmente ligada ao acesso à justiça como sendo o acesso ao Poder Judiciário. Terceirizamos as nossas decisões, passamos a responsabilidade para o juiz. E isso tomou uma dimensão tão grande que o movimento pela desjudicialização tem as iniciativas do Conselho Nacional de Justiça, com a Meta 9, envolvendo todos os tribunais, além de alguns Conselhos Regionais, como o Conselho Regional de Economia, que lançou em 2019, o Pacto pela não judicialização dos conflitos: “O Pacto pela não Judicialização dos Conflitos reflete o compromisso de seus signatários em adotar, interna e externamente, práticas aliadas com os métodos consensuais de resolução de conflitos, tais como a negociação, a conciliação e a mediação

A chamada aqui para autorresponsabilidade é no sentido de que, na maioria das situações que envolvem desentendimentos e conflitos, existe uma gigantesca possibilidade de encontrar as soluções sem a judicialização, ou seja, buscando os métodos extrajudiciais de resolução de conflitos. A experiência de resolver satisfatoriamente uma questão, junto com o outro, num ambiente assistido e privado, é a consciência plena da autorresponsabilidade. Conciliação, Mediação e Arbitragem também são acessos à justiça.

Não judicializar é decisão conjunta, consciente e corresponsável. Conversa, consenso e confiança.

Simone Medeiros
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Simone Medeiros

Com mais de 8 mil horas de mediações realizadas. Sócia proprietária e Diretora de Mediação da Conversatio Arbitragem & Mediação. Assistente Social, especialista em Metodologia do Serviço Social, Arteterapia e Gestão de Conflitos no Judiciário Contemporâneo.

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