VIDA PROFISSIONAL E MATERNIDADE
Dedicação e Equilíbrio em dobro
Para muitas mulheres, encontrar o equilíbrio entre a vida profissional e o papel de mãe é um grande desafio. Isso se torna ainda mais evidente no mercado condominial, onde as demandas são constantes e os desafios são diários. Ainda assim, a presença feminina no segmento cresce e elas conquistam cada vez mais espaço e destaque profissional. Mas como é conciliar a atividade profissional com a maternidade? Conversamos com cinco profissionais do segmento condominial, que nos contaram um pouco sobre a trajetória profissional e como equilibram maternidade e carreira. Confira
DUPLA JORNADA
Gisele Cristina Kellner Guimarães Prado, 40 anos, é síndica moradora há seis anos. Com formação e atuação na área de administração, ela se sentiu à vontade para abraçar a atividade de síndica no condomínio onde vive, tendo sido reeleita recentemente por mais um ano. “Amo o que faço, sou formada em administração de empresas e negócios e sempre atuei na área. Gosto de orientar, cuidar, tomar decisões, discutir ideias, auxiliar todos de forma geral”, conta.
A conciliação entre o papel de síndica e o de mãe pode ser um desafio para algumas mulheres, mas para Gisele, ela tem sorte, já que, ao exercer o papel de síndica moradora, pode acompanhar de perto as atividades, muitas vezes, com a ajuda de sua filha de 11 anos, Ana Beatriz Kellner Guimarães Prado. Ela vê a função como uma oportunidade de ser referência para Ana Beatriz, que se espelha em sua postura. “Percebi que ela se inspira muito naquilo que me vê fazendo. Administrando, cuidando da manutenção de perto, orientando moradores em suas dúvidas e dificuldades”.
Segundo Gisele, a filha reflete suas atitudes. “Ela percebe que cuido de algo que não é diretamente meu pela responsabilidade de zelar por algo que é do coletivo. E, vejo que em casa, com os amigos e com todos da família ela também é assim, zelosa, orienta sobre o que sabe que é certo e visualiza as necessidades de todos”, revela.
Sobre o papel da mulher na função de síndica, Gisele acredita que as mulheres têm um “olhar fino” para todos os detalhes, o que muitas vezes faz a diferença em situações que demandam cuidado e atenção. “Tive um pouco de dificuldade em lidar com alguns prestadores de serviços, porém conto com o apoio do meu marido nesse sentido. Já moramos aqui há 17 anos e conhecemos todas as necessidades do nosso condomínio”.
Gisele vê nas funções de mãe e de síndica um ponto em comum: o desafio de ser um bom exemplo e servir de inspiração não apenas para a filha, mas para todos os moradores que confiam nela para administrar o patrimônio coletivo. Ela ressalta que resolver problemas com carinho e firmeza são fundamentais para o sucesso nas duas atividades. “Se cometemos algum deslize, temos que assumir, para mostrar o que é certo. Se tivermos que lidar com alguma situação adversa, temos que nos mostrar resilientes, não podendo deixar de ser amorosas, compreensivas, brincalhonas e ter jogo de cintura diante dos conflitos”, pondera.
Por fim, o que mais orgulha essa síndica em sua profissão é saber que os moradores depositam toda a confiança nela para administrar o patrimônio com clareza e dedicação, já que procura agir como gostaria que outro síndico agisse no espaço onde vive e isso lhe dá a satisfação de contribuir positivamente para a comunidade. “Acho que o sucesso da minha gestão é a confiança que conquistei. Sendo síndica, as outras atribuições vem junto como o respeito que você tem com o próximo e também como conquista esse respeito por você”, pontua.
Conciliando Funções
O papel de mãe e profissional não é fácil de conciliar, mas para Juliana Esbiteskoski, de 39 anos, isso faz parte do ofício. Ela não abre mão de estar presente na vida da filha Gabriela Esbiteskoski da Silva, de 14 anos, mesmo que isso signifique um dia a dia corrido e cheio de compromissos. “É bem desafiador, pois a profissão de síndico profissional requer muita dedicação e não tem horários fixos, então podemos ser acionados a qualquer momento. Mas sou muito exigente comigo mesma, tanto no papel de síndica quanto no papel de mãe e não abro mão das pequenas coisas do dia a dia da minha filha, como levar ao colégio e estar presente durante as refeições. Ao mesmo tempo, não abro mão de entregar o meu melhor profissionalmente”, conta.
Formada em administração de empresas e pós-graduada em logística empresarial, Juliana tem uma vasta experiência na área administrativa e financeira, tendo trabalhado durante 17 anos em uma empresa familiar e depois em outras áreas, como secretariado executivo e logística. Há três anos, ela trabalha como síndica profissional na FW Gestão de Condomínios. “Sempre tive um amor muito grande por lidar com pessoas. Porém, o que me levou a abraçar este desafio foi realmente vencer todos os meus limites e chegar mais além do que eu mesma me sentia capaz no momento”, garante.
Sobre sua motivação para se tornar síndica profissional, Juliana conta que a oportunidade surgiu em um momento desafiador de sua vida pessoal. “Foi uma grande oportunidade e um desafio ao mesmo tempo, pois penso que para levar o melhor da gente para os outros, é necessário estar primeiro bem com nós mesmos”, diz.
Para Juliana, as mulheres já quebraram muitos paradigmas e barreiras nos últimos tempos no mercado de trabalho: ”A profissão de síndica tem espaço para o trabalho feminino e a maternidade contribui para a função, pois ser mãe exige resiliência, persistência e amor, características que também são importantes na profissão”, afirma.
Ela ressalta que preconceitos, não só relacionados ao gênero no mercado de trabalho, podem acontecer em qualquer área e com qualquer pessoa, mas acredita que é necessário valorizar o próprio trabalho e não permitir certas coisas. “Infelizmente nem todo o ser humano tem a empatia, a educação e o respeito ao próximo no qual minimamente cada um deveria de ter”, avalia.
transformação pessoal
Na opinião de Simone Medeiros, assistente social por formação e mediadora profissional na Conversatio Arbitragem & Mediação desde 2018, a maternidade transforma a percepção da vida. “Ela transforma a maneira de estar com o outro, mostrando a interdependência humana e o quanto precisamos estar atentos a todos os sistemas que nos cercam. Essa visão ‘de camarote’ do todo, nos torna profissionais mais antenadas e capazes de inovar em nossas práticas”, explica.
Simone se define como uma profissional que desenvolveu as habilidades necessárias para a função de mediadora, que gosta de estar com pessoas e de contribuir na busca de solução para as questões que lhe são trazidas, seja em relacionamentos familiares, contratuais ou empresariais. Para ela, tanto a maternidade quanto o trabalho têm desafios em comum. “O maior desafio de ser mãe foi descobrir a minha própria capacidade de amor incondicional. Como mãe e empresária, o que temos em comum são o coração e a mente abertos e a confiança em cada novo dia”, diz.
Ao ser questionada sobre como concilia o papel de mãe e a vida profissional, Simone acredita que a cobrança interna é muito grande, especialmente quando os filhos são pequenos ou adolescentes.
“Penso que a gente sempre acha que não está conciliando bem”. Na visão dela, os filhos, João Luiz e Izabela Cristina, hoje com 35 e 30 anos respectivamente, sempre a ajudaram a ser mãe deles. “Nossa relação sempre foi baseada em muita confiança, admiração, responsabilidade e cooperação, além do amor e da fé como os grandes laços entre nós. Sabedoria e uma boa medida de paciência são necessários para ‘equilibrar os pratos’”.
Sobre o papel feminino no mercado condominial, Simone acredita que a mulher deve estar onde ela quiser, desenvolvendo seus talentos e habilidades no trabalho que escolheu fazer. “O que sabemos é que para superar as distinções que ainda existem, a régua fica lá em cima. Conheço muitas profissionais que se destacam no mercado condominial pela dedicação e expertise. São mulheres conscientes de que a única certeza que temos é a mudança. E a mudança com inovação em alta velocidade como vivemos hoje exige uma formação continuada”, afirma.
PRIORIZAÇÃO
Para a gestora administrativa Giliane Pompermayer, da empresa SINQ Condomínios, a conciliação entre o papel de mãe e a vida profissional no mercado condominial é possível e traz vantagens para a mulher que se empenha. “Conciliar o trabalho com o papel de mãe é uma questão de prioridade e organização. O trabalho é um meio para melhorar a qualidade de vida dos filhos e, na SINQ, tenho uma equipe bem formada que me permite estar com a minha filha sem prejudicar a qualidade do trabalho”, revela.
Com mais de uma década de experiência em administração e atuando no mercado condominial desde então, Giliane conta que o trabalho na SINQ é uma atividade em família, passada de pai para filha. “A motivação para abraçar essa área está ligada à possibilidade de ajudar outras famílias a terem uma boa convivência e trazer soluções para a comunidade”, garante.
Quando questionada sobre a presença feminina no mercado condominial, Giliane ressalta a importância das mulheres conquistarem seus espaços e aplicarem no dia a dia a delicadeza e a percepção sentimental das coisas. “Acredito que a experiência de ser mãe contribui para o meu trabalho, elevando o nível de paciência e permitindo enxergar as coisas de um outro ângulo”.
Sobre os maiores desafios em ser mãe e no trabalho, Giliane destaca a preocupação de que a filha Alice Pompermayer de Carvalho, de 6 anos, esteja sendo guiada para o caminho certo tendo o controle do tempo para suprir todas as necessidades de ser mãe, mulher, esposa e empresária.
Ao definir seu perfil de atuação profissional, Giliane destaca a importância de tratar o outro como gostaria de ser tratado, seja com a família, com os funcionários ou clientes. “Para mim, o que é mais gratificante no exercício profissional é saber que estou sempre evoluindo e que as pessoas retornam com uma boa percepção de como são tratadas”.
Por fim, Giliane se considera bem-sucedida pessoal e profissionalmente, sempre em busca do aprimoramento. ”Me considero bem-sucedida, mas sempre em busca de melhorar o cuidado com as pessoas. O dinheiro é consequência de uma série de pontos que aplicamos ao longo de nossa jornada, basta plantar que os frutos virão, seja para o bem ou seja para o mau”, conclui.
motivação
Na visão da sócia-proprietária da Restole Mini-entulho, Simone Vitali Nehls, ser mãe e empreendedora ao mesmo tempo não é uma tarefa fácil, ainda mais em um mercado considerado tradicionalmente masculino, como é o caso do segmento condominial. No entanto, ela encontrou no desafio diário uma fonte de motivação para se dedicar tanto ao papel de mãe da pequena Olívia Vitali Nehls, de 11 meses, quanto ao de empresária.
Para ela, mesmo que a mulher possua uma rede de apoio pequena, a conciliação do papel de mãe com o trabalho pode parecer um desafio diário. “Só o fato de ser mãe já é um desafio: alimentar, limpar, educar, dar atenção, ensinar, preocupação com doenças, médico, visitas, o que vestir, o que e quando comer, é sempre esse ciclo diário com a criança. E junto entra a parte da empresa: cliente, obra, telefone, orçamento, nota fiscal, entrega, descarte, carro que quebra, acesso limitado ao condomínio… por isso vejo que é sim, muito difícil ‘equilibrar os pratos’, mas ao mesmo tempo é gratificante poder acompanhar o crescimento da minha filha e da empresa”, afirma.
Apesar dos desafios, Simone acredita que as mulher possuem grande potencial profissional e que o mercado condominial tem sido mais receptivo às empreendedoras. “Não é fácil ser mulher empreendedora. A sociedade não aceita o fato da mulher comandar uma empresa, ser grande, ser inteligente, confiante e mesmo internamente na empresa é diariamente necessário mostrar que a mulher é capaz de liderar e buscar por respeito. Vejo que no mercado condominial tem sido muito mais leve trabalhar, não sendo necessário dar ‘mil explicações’ para as pessoas, basta conversar que elas percebem que a mulher tem conhecimento e expertise no que faz. Fico muito feliz em ver muitas mulheres trabalhando em diversas áreas do condomínio, desde o administrativo até em manutenções!”.
Simone, que ingressou no mercado condominial em 2021, conta que sempre teve vontade de empreender e ter o próprio negócio. Após uma reforma em seu apartamento, surgiu a ideia do projeto da Restole Mini-entulho, uma solução para o transporte de entulhos de pequenas obras, algo que contou com o apoio da família e hoje é um sucesso no mercado.
Para Simone, exercer o papel de mãe e de empreendedora contribui para a organização e na habilidade de priorizar tarefas. “Contribui principalmente na parte na organização da rotina, saber o que realmente é importante nas atividades, o que pode ser delegado e que há coisas que não são urgentes como parecem!”, explica.
Mesmo com os desafios, Simone se orgulha de seu trabalho na Restole e define seu perfil de atuação como multitarefas, responsável pelo planejamento, desenvolvimento, controle e monitoramento de atividades e indicadores em diversos setores da empresa. “É gratificante no dia a dia poder atender um cliente, falar com um fornecedor, buscar melhorias nos processos, mas principalmente fechar as contas”, encerra.
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